Principais Acervos Minerais do Brasil

Principais Acervos Minerais do Brasil

18 agosto 2014
Pércio de Moraes Branco

Citar os principais acervos brasileiros na área de minerais, do mesmo modo que citar os principais mineralogistas brasileiros, é missão espinhosa pelo risco muito grande que se corre de omitir nomes importantes. Além disso, embora possam ser bem conhecidos os acervos públicos, pode haver coleções importantes em mãos de particulares que preferem não expô-las nem ter sua existência divulgada. Por isso, os acervos a seguir mencionados são uma tentativa de mostrar uma realidade que pode ser bem mais atraente do que imaginamos.


Acervos Públicos
Entre os acervos públicos, sem dúvida merece figurar com muito destaque o Museu de Ciência e Técnica da Universidade Federal de Ouro Preto, com um acervo de minerais e rochas que compreende 23 mil peças, procedentes de todo o mundo. Anteriormente chamado de Museu de Mineralogia, ele ocupa hoje todo o prédio construído em 1741, onde funcionava a Escola de Minas, e a ele se somaram acervos de outros museus. Assim, o museu atual pode ser visto como diversos museus ou então, pelo menos, como um museu multitemático, onde há seções de mineralogia, topografia, mineração, metalurgia, física, astronomia, desenho e biblioteca de obras raras. Há ainda uma sala que reproduz o interior de uma mina de ouro.

O Museu Nacional foi criado em 1818 e até 1824 chamou-se Museu Real. Nessa data, passou a ser Museu Imperial, até 1889, quando recebeu a atual denominação. Fica no Rio de Janeiro, na Quinta da Boa Vista, onde está desde 1892. Entre as várias coleções importantes que recebeu está a Coleção Werner, com a qual se iniciou o acervo, e a coleção de minerais de José Bonifácio. Mas em 1946-1947, em revisão do acervo que fez, Viktor Leinz só reconheceu 1.800 das 3.200 peças da primeira coleção. Como se vê abaixo, parte do acervo que faltava foi levada para a Academia Real Militar. A de José Bonifácio e uma outra estavam praticamente perdidas. O Museu Nacional tem importante coleção de meteoritos, entre eles o Bendegó, o maior já encontrado no Brasil (5.360 kg), mas o acervo mineralógico permanece na reserva técnica, inacessível, portanto, ao público.

Outra coleção de minerais encontra-se no Museu da Geodiversidade, situado no Instituto de Geociências, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Ela começou com a transferência da coleção Werner da Academia Real Militar (ARM) para o Museu Real, em 1818, quando ele foi inaugurado.

Como a ARM ficou sem acervo mineralógico para as aulas práticas de Geologia e Mineralogia do curso de Engenharia, foi solicitada ao novo museu, em 1824, doação de duplicatas lá existentes. Elas constituíram, assim, o início de nova coleção. Através de compras e doações, o acervo atingiu mais de 5.000 exemplares em 1883.

A Academia Real Militar recebeu diversas denominações, até ser batizada, em 1937, de Escola Nacional de Engenharia (ENE). Durante o período da ditadura militar, o Instituto de Geociências da UFRJ recebeu parte do acervo mineralógico da ENE. Um recadastramento feito recentemente mostrou, porém, que a instituição não possui mais de mil peças, ignorando-se que destino teve o restante dessa coleção, importante por sua relevância histórica e científica.

O Museu de Ciências da Terra, também no Rio de Janeiro, antes pertencia ao Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM, passando a ser do Serviço Geológico do Brasil - CPRM em 2013. Ele possui dezenas de milhares de peças, algumas de valor histórico, e foi organizado em 1907 por Orville Derby. Ao contrário do Museu Nacional, tem seu acervo de minerais acessível ao público. (Para mais informações, visite a página do museu nesse site.)

O Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo possui o Museu de Geociências, localizado na Cidade Universitária e aberto ao público. O acervo, um dos mais importantes do Brasil, inclui minerais, rochas, espeleotemas, meteoritos (entre eles o Itapuranga, o terceiro maior do Brasil) e muitos fósseis, distribuídos em 550 m². São quase 50 mil peças, das quais 10% estão em exposição permanente. Também em São Paulo, há o Museu Geológico Valdemar Lefebvre, com acervo de minerais, rochas e fósseis.

Em Porto Alegre (RS), a CPRM mantém o Museu de Geologia. Embora não tenha um acervo grande, ele se destaca por conter rica coleção de gemas brutas (100 tipos) e lapidadas (62 tipos), além de outros minerais, inclusive a rara lulzaquita. Há também rochas e fósseis, com um mesossaurus tenuidens em excelente estado de conservação. O museu desenvolve intensa atividade, principalmente junto a escolas, distribuindo gratuitamente grande quantidade de amostras de minerais e rochas a alunos, professores e colecionadores em geral.

O Museu de História Natural da Ulbra - Universidade Luterana do Brasil, em Canoas (RS), tem um acervo que também não se destaca pelo tamanho, mas merece ser citado por conter uma valiosa coleção de minerais muito raros. São cerca de 200 peças, procedentes de aproximadamente 15 países, integrantes da Coleção Pércio de Moraes Branco, adquirida por aquele museu em 1996. Várias dessas espécies provavelmente não figuram em nenhum outro museu do país. Esse acervo foi objeto de artigo publicado em 1997 no Southern Brazilian Journal of Chemistry e na Revista da Universidade de Santa Fé (Argentina).



Acervos Particulares Históricos
Entre as coleções particulares de minerais brasileiros, a primeira de que se tem notícia é a do sertanista português João Coelho de Sousa, que reuniu um acervo de ouro, gemas e outros minerais na segunda metade do século XVI.

O mineralogista francês Jean Louis de Bournon (1751-1825) tinha uma coleção de 22.880 peças, entre as quais minerais do grupo da platina procedentes do Brasil e que lhe foram doados pelo seu amigo Domingos Antônio de Sousa Coutinho. Essa coleção está quase intacta, mas dividida: parte no Museu Nacional de História Natural e parte no Colégio da França, em Paris.

O inglês John Mawe (1766-1829) foi importante comerciante de minerais para coleção e a ele se deve um tratado sobre pedras preciosas que muito ajudou a tornar conhecidas e valorizadas na Europa as gemas brasileiras.

D. João VI, rei de Portugal que transferiu a corte portuguesa para o Brasil, tinha uma rica coleção de gemas, na qual se destacam muitos diamantes de grandes dimensões, em geral com peso acima de 17 quilates, pois diamantes desse porte eram os que a família real costumava escolher dentre todos os produzidos pelas minas do reino.


Acervos Particulares Atuais
Apesar de muito rico em pedras preciosas e da imensa variedade que elas mostram no Brasil, nosso país tem bem poucos colecionadores de minerais, quando comparado com Estados Unidos e Itália, por exemplo. Nos últimos anos, a crescente busca de cristais para fins místicos e terapêuticos (cristaloterapia) aumentou o número dos que se dedicam a esse tipo de colecionismo, mas ainda é difícil encontrar quem faça isso de modo sistemático e permanente.

Entre as coleções particulares atuais que devem ser citadas estão as dos colecionadores abaixo, em ordem alfabética.

Álvaro Lúcio, engenheiro natural de Santa Catarina, diplomado em Ouro Preto (MG), é autor de diversos livros e artigos técnicos. Sua valiosa coleção de minerais tem peças representativas das jazidas mais interessantes entre as descobertas no Brasil nas últimas décadas.

O geólogo Andrea Bartorelli, criador do Museu de Minerais de Paraty, Rio de Janeiro, é autor de três livros e responsável por várias exposições de minerais. Sua coleção conta com cerca de mil peças, na sua grande maioria brasileiras.

Assad Marto é médico, nascido na Jordânia. Começou sua coleção aos 11 anos e é membro de várias associações mineralógicas. Associou-se a proprietários de lavras de gemas em Minas Gerais, o que ajudou a ampliar sua importante coleção, formada principalmente de peças de grades dimensões e diferentes das habitualmente vistas.

Carlos Jesus Cornejo Chacón nasceu em Santiago (Chile) e atua como jornalista, fotógrafo e editor, tendo realizado diversas exposições de minerais. Junto com Andrea Bartorelli é autor da excelente obra "Minerais e Pedras Preciosas do Brasil" (2010), principal fonte das informações aqui apresentadas. Além de uma biblioteca especializada em mineralogia, possui uma coleção com mais de mil peças, muita delas coletadas pessoalmente nas muitas viagens que realizou.

Guido Borgomanero nasceu na Itália e começou a colecionar minerais muito jovem, mas mais intensamente a partir de 1959. Naquela época, com 38 anos, foi nomeado cônsul adjunto em São Paulo. Fez curso de gemologia e visitava garimpos e pedreiras. Aposentado, optou por permanecer no Brasil, onde faleceu em 2005. Sua esposa, Ragnhild Borgomanero, preserva a coleção que ele montou com tanto carinho.

Júlio Landmann, químico diplomado pela Universidade de São Paulo - USP, com MBA nos Estados Unidos, tem destacada atuação no meio cultural. E coleciona minerais desde criança. Sua coleção é, sem dúvida, uma das melhores do Brasil. São cerca de 800 peças de valor estético, 70% delas procedentes do Brasil.

Luiz Alberto Dias Menezes Filho, engenheiro de minas paulista, é colecionador de minerais há 50 anos. Importa e exporta minerais para coleção e participa das principais feiras internacionais do setor.

Paulo Roberto Amorim dos Santos Lima, geólogo diplomado pela UFRJ em 1972, é autor de dois livros de mineralogia: "Minerais em Grãos: Técnicas de Coleta, Preparação e Identificação" e "Guia de Mineralogia". Começou a colecionar minerais em 1969 e possui mais de três mil peças em seu acervo, representando cerca de 650 espécies.

Reinhard Wegner é mineralogista e vulcanólogo, com especialização em pegmatitos graníticos. Leciona diversas disciplinas na Universidade Federal da Paraíba e possui uma vasta coleção de minerais.

Rolando e Bruno Gioia possuem uma coleção sobre a qual não temos dados, mas que, a julgar pelas fotos que se vê na obra "Minerais e Pedras Preciosas do Brasil", deve ser importante.

Duas outras coleções menos importantes que as anteriores podem ser citadas. Uma é a de Daniel Berringer, gemólogo especializado em diamantes, que coleciona minerais e gemas lapidadas desde os oito anos de idade, dedicando-se também às chamadas pedras temáticas, curiosas por suas formas. A outra é de Pércio de Moraes Branco, que coleciona minerais há 43 anos. Das 1.500 peças da sua primeira coleção, 90% foram adquiridas em 1996 pelo Museu de Ciências Naturais da Universidade Luterana do Brasil. Sua coleção atual, objeto de reportagem na revista "Retrô – Antiguidades e Coleções", compreende cerca de mil peças, principalmente gemas brutas (60 tipos) e lapidadas (70 tipos).

Por fim, embora não esteja mais no Brasil, não pode deixar de ser mencionada a coleção Ilia Deleff. São 78 cristais gigantescos, de 200 kg a 4 mil kg, todos encontrados no Brasil, reunidos pelo búlgaro Ilia Deleff ao longo de 25 anos. Nela estão os maiores cristais de citrino, topázio azul, morganita e amazonita azul do mundo, além de um quartzo enfumaçado de três toneladas.

Durante três anos, Deleff tentou vendê-la a instituições brasileiras, com condições de pagamento extremamente vantajosas, mas não conseguiu. Ofereceu-a, então, a instituições estrangeiras. Diversos países manifestaram interesse e o acervo acabou vendido, em 1982, ao Museu Nacional de História Natural da França. A coleção saiu do Brasil como simples matéria-prima para a indústria(!). Deleff foi condecorado pelo então presidente francês François Mitterrand com a Ordem Nacional das Palmas Acadêmicas.

Ilia Deleff e sua coleção (fotos: Revista Veja):




Fontes
BRANCO, P. de M. Dicionário de Mineralogia e Gemologia. São Paulo, Oficina de Textos, 2008. 608 p. il.

CORNEJO, C. & BARTORELLI, A. Minerais e pedras preciosas do Brasil. São Paulo, Solaris, 2010. 704 p. il.

Revista Veja. Edições de 23.03.1983 e 30.03.1983.

José Bonifácio de Andrada e Silva. Wikipédia em português. Acessado em 10.09.2010.

BASTOS, C. M. et al. Da Academia Real Militar ao Departamento de Geologia, do Instituto de
Geociências, da Universidade Federal do Rio de Janeiro: a trajetória de uma coleção de minerais.
Belém, Bol. Mus. Paraense Emílio Goeldi, Cienc. Nat., 12 (1):109-127. Jan-abr 2017.

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